Brasil tributa como país rico, entrega como país pobre e quem produz paga a conta

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David Braga*

A recente taxação de 10% sobre grandes rendas aplicada a contribuintes que recebem acima de R$ 50 mil por mês ou R$ 600 mil por ano reacendeu o debate sobre o peso da carga tributária no Brasil, um dos países que mais tributa no mundo sem oferecer serviços públicos à altura do que cobra.

Em 2024, a carga tributária bruta do Governo Geral atingiu 32,32% do PIB, o maior nível da série histórica segundo o Tesouro Nacional, colocando o país acima de parte das economias da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), mesmo sem entregar sistemas de saúde, educação, infraestrutura e segurança comparáveis aos das nações desenvolvidas. A isso se soma o avanço contínuo do endividamento: a Dívida Pública Federal ultrapassou R$ 7,9 trilhões em julho de 2025, conforme o Relatório Mensal da Dívida (STN), pressionando as contas públicas e ampliando a necessidade de arrecadação, que novamente recai sobre empresas, executivos e trabalhadores já sobrecarregados por um custo de vida crescente e por um cenário econômico que oferece cada vez menos previsibilidade.

Em resposta a esse contexto adverso, empresas têm reforçado planejamento tributário, antecipado distribuição de dividendos e reestruturado operações para proteger caixa e garantir sustentabilidade. Trata-se não apenas de sobrevivência, mas de teste de adaptabilidade, eficiência e inovação. O executivo moderno sabe que não basta cortar custos: é preciso reinventar modelos de negócio, diversificar mercados, ampliar competitividade e transformar adversidades em oportunidades concretas.

Para liderar em tempos de instabilidade, é essencial combinar resiliência, visão estratégica e gestão orientada a dados. Empresas que crescem mesmo sob incerteza são as que antecipam cenários, tomam decisões ágeis e estruturam culturas de longo prazo. Elas são conduzidas por líderes capazes de enxergar além da crise e que transformam turbulência em prosperidade com propósito, ética e foco nas pessoas.

É nesse contexto que o senso crítico da sociedade, especialmente da elite decisória, se torna indispensável. Governantes não são entidades abstratas: são representantes eleitos, responsáveis por gerir recursos públicos e direcionar o futuro do país. O Brasil precisa superar a polarização vazia entre “esquerda” e “direita” e lembrar que político não é ídolo, mas funcionário do povo. Disciplina fiscal, investimento produtivo e respeito ao dinheiro público deveriam ser exigências mínimas, não promessas de campanha.

Executivos, empresários e cidadãos precisam abandonar o “torcer” e assumir o “questionar”: analisar dados, fiscalizar ações, entender impactos de reformas e exigir responsabilidade. Menos torcida organizada, mais participação qualificada. Comparada a países desenvolvidos como Estados Unidos (26%), Canadá (33%) e Reino Unido (33%) – dados OECD Tax Revenue Database, a carga tributária brasileira já não é baixa. A diferença crucial é que, enquanto esses países retornam serviços eficientes, o brasileiro precisa pagar privado saúde, educação, segurança, além dos impostos.

A alta de impostos tende a reduzir a competitividade do Brasil ao encarecer o custo de produzir, contratar e investir no país. Para o investidor, sendo ele brasileiro ou estrangeiro fica mais difícil justificar projetos de longo prazo quando a carga tributária sobe sem que haja previsibilidade, segurança jurídica e melhora clara em infraestrutura, qualificação de mão de obra e ambiente de negócios.

Na prática, capital e novos investimentos tendem a migrar para países onde a combinação “tributação + retorno” é mais favorável, enquanto aqui se prolonga a sensação de que quem produz é punido e quem decide o sistema não entrega o suficiente em contrapartida.

A nova taxação pode reforçar um ciclo perigoso: sensação de confisco, aceleração do “jeitinho tributário” e queda na disposição de investir. Empresas adiam projetos, executivos redirecionam energia para blindagem fiscal e trabalhadores sentem, no fim, os efeitos indiretos, ou seja, menos oportunidades e menor crescimento. A pergunta que persiste é simples e urgente: essa medida aproxima o Brasil de um futuro mais competitivo e sustentável ou empurra talento, capital e oportunidades para fora do país?

*  CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent Executive Search. É conselheiro de Administração e professor pela Fundação Dom Cabral, Presidente da ABRH-MG, VP do Conselho de RH da ACMinas e Presidente do Conselho de Administração da ONG ChildFund Brasil

“Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Hoje em Dia”.

Fonte: Hoje em Dia

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