Andre Purri*
Nas empresas, ainda prevalece a crença de que seriedade e rigidez são sinônimos de profissionalismo. Esse é um equívoco caro. O ambiente corporativo está adoecido, a criatividade é sufocada e a liderança se perde em um mar de formalidades. O brincar adulto, tema de uma recente reflexão publicada na Forbes, mostra justamente o contrário: o lúdico não é infantilidade, é uma ferramenta poderosa de transformação.
Líderes que insistem em manter distanciamento e sisudez confundem respeito com medo. O resultado são times engessados, pouco inovadores e frequentemente esgotados. A criatividade, tão valorizada nos discursos, não nasce em ambientes de opressão hierárquica. Ela exige espaço para a leveza, para a experimentação e para a espontaneidade que só o brincar é capaz de oferecer.
Não se trata de colocar pula-pula nos escritórios ou de gamificar tarefas de forma artificial. O ponto é mais profundo: criar uma cultura em que o erro não seja punido como fracasso, mas entendido como parte natural do processo criativo. É sobre incentivar a colaboração genuína, permitir que as pessoas experimentem sem medo e reconhecer que momentos de descontração também produzem aprendizados valiosos. Em muitas empresas inovadoras, as melhores ideias nasceram de conversas informais, trocas despretensiosas e até de situações inusitadas que só foram possíveis porque havia espaço para o riso e para a leveza.
A resistência em incorporar o lúdico é, na prática, uma resistência em cuidar da saúde mental. O burnout e a exaustão são epidemias silenciosas que corroem talentos e resultados. Pesquisas recentes mostram que colaboradores mais engajados e satisfeitos são também mais produtivos — e que um ambiente saudável depende menos de discursos motivacionais e mais de condições reais de bem-estar. Ignorar o brincar é fechar os olhos para soluções simples e eficazes de equilíbrio emocional e de criatividade.
Empresas que ainda desprezam essa prática revelam, no fundo, apego a modelos ultrapassados de autoridade e gestão. Líderes que acreditam que o respeito só pode nascer do medo, ou que associam humor à perda de credibilidade, permanecem presos a estruturas que já não funcionam em um mundo de mudanças rápidas. Essa lógica não apenas limita a inovação como também afasta talentos que buscam um ambiente mais humano, flexível e estimulante.
O recado é direto: brincar é sério. Quem lidera precisa entender que o lúdico não ameaça a credibilidade, mas a fortalece. Ao recusar essa dimensão, líderes se tornam reféns de uma rigidez estéril. Ao abraçá-la, constroem times mais criativos, resilientes e saudáveis.
Em um cenário em que a pressão é constante e a transformação é inevitável, talvez a pergunta mais urgente para quem ocupa o poder seja: você está pronto para brincar ou vai continuar levando a sério o que já não dá resultado?
*CEO e cofundador da Alymente
“Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Hoje em Dia”.
Fonte: Hoje em Dia