Confira a entrevista com engenheiro agrônomo e agricultor Júlio Busato

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‘Solo hoje é mais produtivo que há 30 anos’, diz presidente da Abapa.

Júlio César Busato é engenheiro agrônomo e agricultor, nascido na cidade de Casca, no Rio Grande do Sul. Chegou ao Oeste da Bahia em 1987, com a esposa e o filho, buscando um horizonte de maior crescimento e novas oportunidades. Atualmente, o empresário dirige um grupo com quase 800 pessoas.

Sustentabilidade e investimentos em tecnologia no campo dariam assunto para um dia inteiro, diz o empresário Júlio Busato. Presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), ele fala com a reportagem por telefone, mas os quase 900 quilômetros que separam Salvador da região Oeste da Bahia são insuficientes para esconder a empolgação do agricultor ao falar sobre a revolução nos campos baianos.

Atualmente, a produção de algodão ocupa uma área de 336 mil hectares e movimenta R$ 4,6 bilhões por ano, além de responder por um total de 30 mil empregos na Bahia. Entretanto, o maior destaque do estado não é a quantidade, mas a qualidade. Do cerrado baiano sai o segundo melhor algodão do mundo. É lá também onde se registra a melhor produtividade, não apenas do algodão, mas também da soja e do milho.

Qual é o tamanho da produção baiana e qual a participação do estado neste mercado?
A Bahia é o segundo maior produtor de algodão do Brasil, nós vamos produzir este ano 1,5 milhão de toneladas entre a pluma e o caroço. E a Bahia possui a melhor qualidade de algodão do Brasil, uma das melhores do mundo. Na realidade, só perdemos para o algodão da Austrália, porque lá a produção é totalmente irrigada. Nós temos a maior produtividade não irrigada do mundo. Neste particular, os cotonicultores estão de parabéns.

A que o senhor atribui resultados tão positivos?
No conjunto todo, destacaria em primeiro lugar o nosso clima, que é muito bom para a cultura, porque as noites não são muito frias. Temos poucos dias nublados, com bastante luminosidade e dois períodos climáticos bem definidos. De outubro até abril, temos o período chuvoso. E de abril até outubro, temos a estiagem. Como programamos a colheita para os meses de junho e julho, esse algodão pega pouca chuva neste período. É um diferencial muito grande para a qualidade do algodão. Dá uma fibra muito boa. Além do clima, tem também as áreas planas, que permitem o uso de máquinas de grande porte, com última tecnologia. Na verdade, hoje tudo o que tem de melhor nos Estados Unidos e Austrália, que dominam a tecnologia de produção do algodão, você encontra aqui. Máquinas, equipamentos e sementes. Junto com tudo isso, você ainda tem o cerrado. Ao longo dos anos, fomos fazendo fertilizações com adubos, fertilizantes, calcário e melhoramos muito a matéria orgânica. Tínhamos solo com 1% de matéria orgânica e hoje temos solos em que esse percentual chega a 1,5% e 2%.

Este dado é interessante porque existe uma ideia de que a monocultura empobrece o solo.
É o esforço que fazemos continuamente em melhorias que nos dão uma boa produtividade. Claro que existe também todo um trabalho dos agricultores, no sentido de implantação de suas lavouras com equipamentos, sementes, condução das áreas com o controle de ervas invasoras, insetos, evitar doenças – todo o conjunto de ações que chamamos de manejo da cultura. Existe um enorme cuidado com a colheita, que passa por trabalhar com variedades separadas. A produtividade e a qualidade da fibra passa por todo um conjunto que reúne condições naturais e a intervenção humana. A cultura do algodão é muito exigente em termos de tecnologia e com o processo produtivo. Nada simples como a soja e o milho, por exemplo. Mas os produtores baianos conseguem dominar bem essa cultura. É o que nos dá a qualidade e a produtividade.

E quais seriam os gargalos?
Eu acredito que o grande problema que temos se chama logística e infraestrutura. É um problema que não vamos conseguir resolver no curto prazo, mas também é algo que nós mesmos geramos. Você imagina que o Brasil em 1990 era o segundo maior importador de algodão do mundo e hoje o país é o segundo maior exportador e o quarto maior produtor mundial. O Brasil importava 100% do algodão utilizado aqui. Houve uma grande produção na década de 70, em 80 diminuiu um pouco e depois parou, caiu para zero, por causa de uma praga chamada bicuda, que dizimou as lavouras. Agora, este crescimento que tivemos criou um problema de logística, porque o crescimento foi muito grande e esse processo se deu muito rápido. Nós da iniciativa privada temos uma velocidade muito maior que o governo e o poder público não conseguiu acompanhar a velocidade com que a nossa demanda aumentou. Por isso tudo, a logística é um problema que nós temos e que estamos tentando resolver juntos, tanto com o estado quanto com o governo federal. Precisamos de estradas, de portos e de ferrovias.

Como o setor vê a questão ambiental na Bahia?
Existe uma desinformação muito grande da sociedade, uma mídia negativa com o agricultor e com a agricultura. Mas aqui no Oeste da Bahia, temos duas associações, que são a Abapa e a Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), antigas. No passado, nos associamos com as secretarias de Meio Ambiente e de Agricultura do estado e com os municípios onde atuamos e criamos no oeste um centro de desenvolvimento ambiental. É para os produtores buscarem informações e ficarem legalmente e ambientalmente corretos. Isso passou por cuidados com áreas de proteção permanente, com reservas, etc. E montamos de uma maneira em que colocamos as reservas de produtores diferentes reunidas, sempre mostrando a importância de estar ambientalmente corretos. Fizemos um trabalho sério. Recentemente, a Embrapa fez um estudo mostrando que os agricultores do Oeste da Bahia preservaram 35% das suas propriedade, principalmente junto dos rios e áreas de proteção. Este trabalho mostra que houve um gasto de R$ 11 bilhões em compra de terras e que se esta área fosse cultivada com milho, por exemplo, iria gerar R$ 6,6 bilhões em produção. Este é o custo que os produtores pagaram para estarem ambientalmente corretos na legislação ambiental.

O que é o programa do Algodão Brasileiro Responsável?
É um programa que vem da Abrapa, que é a associação nacional, mas ele é executado na Bahia pela Abapa. Este programa estabelece o cumprimento de 178 itens na parte social, ambiental e de segurança do trabalho. Vem uma certificadora internacional, a Better Cotton Iniciative (BCI), que tem 25 itens, inseridos nos nossos itens. Isso mostra o tamanho do trabalho do setor. Para receber o selo de responsabilidade é necessário cumprir todas as normas do Código Florestal, todas as exigências do Ministério do Trabalho. São 178 itens. E para nossa felicidade, 78% do algodão baiano possui este selo. Nós temos feito um belo trabalho. Talvez não estejamos divulgando como deveríamos.

Essa preocupação com a sustentabilidade se deve apenas ao cumprimento da legislação ou atende uma demanda de mercado?
O que abre portas é a qualidade do nosso algodão. Nós acreditamos que a produção sustentável ainda vai se tornar uma exigência. Mas é importante dizer que produtor já está consciente disso e se preparando para este cenário, para estar ambientalmente correto. É o dever fazer. Já temos 80% certificados e os 20% que ainda faltam estão tentando cumprir os 178 itens. O  algodão vai crescer bastante.

Como está a produção de algodão na Bahia?
No ano passado, Guanambi plantou 10 mil hectares, com o apoio da Abapa, e os outros 326 mil foram aqui no Oeste da Bahia.

O que a associação tem feito para apoiar a atividade?
Aí, a associação mantém um programa fitossanitário para controlar pragas. Temos um centro de treinamento para treinar as pessoas a trabalhar com máquinas de alta tecnologia, sempre com foco na segurança do trabalho. Como já disse, temos um centro de desenvolvimento ambiental em parceria com a Aiba. Destaco também a nossa patrulha mecanizada, que já fez 2,6 mil quilômetros de estradas viscinais. Nestas estradas, fazemos um sistema de ‘barraginhas’, para a água não correr para os rios com areia e sedimentos. É o trabalho que a Abapa faz para preparar os produtores para passar pela auditoria e receber a certificação.

É a consciência de que o produtor precisa da terra em boas condições…
Exatamente, é por isso que investimos tanto em melhorias no solo, em matéria orgânica. Nós temos no oeste a maior produtividade de algodão, de soja e de milho do Brasil. Não se consegue isso sem um comprometimento sério com a sustentabilidade. Veja, é uma atividade que vem sendo desenvolvida há 30 anos e o resultado dela é o solo melhor do que era inicialmente. Os solos produzem cada vez mais. É fruto do trabalho dos produtores.

Como vocês veem a possibilidade de adensar a cadeia do algodão na Bahia?
Claro que nós temos interesse em agregar valor. Se fala muito que precisamos ao invés de vender o algodão, trabalhar para vender a camisa de algodão. A questão é que existe um contexto nacional para a indústria têxtil que é muito complicado. É uma atividade que vem diminuindo no país. Isso se deve à energia cara, do problema da legislação trabalhista, impostos, infraestrutura e mais um monte de coisas. Hoje, o Brasil perde de duas a três indústrias têxteis por ano para Bangladesh. Esperamos que o Brasil volte a crescer e passe a oferecer condições melhores para a indústria. Nós temos duas coisas importantes aqui: a matéria-prima, que é o algodão e mão de obra de altíssima qualidade. Posso lhe dizer pelo que vivencio nas fazendas de algodão, quando essas pessoas são treinadas e preparadas, elas desempenham um ótimo trabalho.

I FÓRUM DE INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE PARA A COMPETITIVIDADE – Inscrições gratuitas

24 de outubro de 2019

8h00 às 9h00 –  Credenciamento

9h00 às 9h30 –  Abertura

9h30 às 9h50 –  Palestra Licenciamento ambiental, com Eduardo Bim, pres. do Ibama

9h50 às 10h10 –   Palestra Tendências de inovação na Industria 4.0, com Gianna Sagazzio, dir. de Inovação CNI

10h10 às 10h30 –  Palestra Eco-Nomia, a Nova Compliance Internacional, com Eduardo Athayde, dir. da WWI

10h30 às 11h00 –  Painel I – Um Mundo em Mutação: Novas Regras nos Negócios, com Eduardo Bim, Gianna Sagazzio, Eduardo Athayde

11h00 às 11h20 –  Coffee

11h20 às 11h40 –  Palestra O Inovador Brasil Rural, com Julio Busatto, pres. da ABAPA

11h40 às 12h00 –  Palestra Da Chapada Diamantina para o Mundo, com Evilasio Fraga, dir. do Agropolo

12h00 às 12h20 –  Palestra Direito Ambiental na Indústria Florestal, com Georges Humbert, pres. do Instituto Brasileiro de Direito e Sustentabilidade da IBRADES

12h20 às 12h50 –  Painel II – Inovação e Sustentabilidade Modelando Iniciativas, com Julio Busatto, Evilasio Fraga, Georges Humbert, mediado por Rodrigo Alves, sup. do Ibama

12h50 às 13h00  – Acordo de cooperação

13h00 –  Encerramento

As inscrições gratuitas podem ser realizadas aqui

*O I Fórum de Inovação e Sustentabilidade para a Competitividade é uma realização do jornal Correio, Ibama e WWI, com o patrocínio da ABAPA, Fazenda Progresso e Suzano S.A e apoio institucional da FIEB e FAEB/SENAR.

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