‘Vacina contra HPV sobra na rede pública por falta de procura’, alerta oncologista

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O câncer de colo de útero atinge mais de 16 mil mulheres no Brasil, segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para cada ano do biênio 2018-2019. O risco estimado é de 15,43 casos a cada 100 mil mulheres, o que leva a doença a ocupar a terceira posição entre os tipos de câncer, atrás apenas dos que atingem a próstata e a mama.

Na Bahia, a estimativa do Inca é de 1.230 novos casos de câncer de colo de útero, sendo 300 somente em Salvador, também segundo os números estimados para cada ano do período 2018-2019. E o principal fator de incidência da doença – em 90% dos casos – é a infecção pelo vírus HPV, sigla em inglês para o Papiloma Vírus Humano.

A relação entre o HPV e o câncer de colo de útero foi o tema da entrevista desta terça-feira, 28, do programa ‘Isso é Bahia’, que vai ao ar diariamente na rádio A TARDE FM, das 7h às 9h. Durante a conversa com os apresentadores Jefferson Beltrão e Fernando Duarte, a médica oncologista Renata Cangussu, do Núcleo de Oncologia da Bahia, destacou que a prevenção inadequada ainda é uma das principais causas dos registros de câncer entre a população feminina.

Segundo a especialista, este tipo de câncer pode ser evitado a partir da vacina contra o HPV – disponível no SUS para meninas de 9 a 14 anos e para meninos de 11 a 14 anos –, além do exame preventivo feito anualmente.

“Existe uma vacina que tem uma eficácia próxima de 100%. Então, se as meninas na faixa etária adequada estiverem vacinadas, a gente consegue erradicar o câncer de colo uterino. É importante registrar que, em Salvador, ela está disponível na rede pública e, todos os anos, sobra vacina por causa da falta de procura da população. Falta informação sobre a importância da imunização em meninas e meninos”, alerta a médica.

Prevenção

A imunização deve ser feita antes mesmo do início da vida sexual, uma vez que, de acordo com a médica, a criança ou adolescente ainda não está exposto ao vírus. Quando a paciente começa a ter relações sexuais, a orientação é consultar anualmente o ginecologista e realizar o exame preventivo, conhecido como Papanicolau. “Ele é indispensável mesmo para as meninas que foram vacinadas adequadamente”, completa Renata Cangussu.

Meninos x transmissão

Os meninos não devem ficar fora das campanhas de vacinação e prevenção ao HPV, não só pela possibilidade de contraírem o vírus e apresentarem manifestações benignas da doença (como verrugas na região genital, por exemplo), como também por funcionarem como fatores de transmissão do câncer de colo de útero para a população feminina.

“É importante que esses meninos sejam vacinados para que não transmitam para as meninas, além de estarem se prevenindo contra outros tipos de câncer. O HPV está relacionado a cânceres de pênis, cavidade oral e boca, que também são encontrados em homens e podem ser evitados”.

Vacinação tardia

Pelo Sistema Único de Saúde, a vacina é oferecida para adolescentes até os 14 anos. Entretanto, Renata Cangussu destaca que as duas principais vacinas contra o HPV – bivalente e tetravalente – estão disponíveis na rede privada para uma faixa etária maior. “Para as meninas, a bivalente é de 9 até 45 anos. Já a tetravalente é de 10 a 25 anos. A gente indica que seja feita a vacinação o quanto antes, mas até aquelas pessoas que já têm o HPV instalado têm benefícios em se vacinar”, explica a médica.

A principal forma de transmissão do HPV é via relação sexual, por isso a importância do uso do preservativo, mesmo as mulheres que utilizam outros métodos contraceptivos, incluindo a pílula anticoncepcional. A especialista ressalta que o vírus não se espalha somente através da penetração, uma vez que o contágio pode ser feito por meio do sexo oral. Além disto, ela destaca que não há comprovação científica sobre transmissão do vírus por superfícies compartilhadas, como vaso sanitário e piscina.

Assista a entrevista na íntegra:

Obesidade como fator de risco

No que se refere à incidência do câncer, de 90% a 95% dos casos são motivados por fatores de risco adquiridos durante a vida. Entre eles está a obesidade, responsável por ao menos 13 tipos da doença e considerado, atualmente, o principal fator modificável de incidência, tendo ultrapassado o tabagismo. “Existem dois principais tipos de câncer de colo uterino, o adenocarcinoma e o carcinoma de células escamosas. O adenocarcinoma tem um maior risco de incidir em pacientes que têm sobrepeso e obesidade, então é também um fator de risco modificável de extrema importância”, enfatiza a médica.

Sintomas e tratamento

Conhecida como uma doença silenciosa, o câncer de colo de útero pode demonstrar os sintomas em uma fase mais avançada, daí a importância da prevenção e da descoberta do tumor no início. “Normalmente, há sangramento de forma anormal, não relacionado à menstruação, que pode ocorrer também durante o ato sexual, além de um corrimento com um aspecto diferente e dor pélvica. Esses são os sintomas mais comuns”, cita a oncologista.

Já os tratamentos variam de acordo com a fase do diagnóstico e as características de cada caso. A médica explica que, inicialmente, o processo é feito por meio de cirurgia para a retirada do útero e dos ovários. Em uma etapa posterior, pode ser pela combinação de quimioterapia e radioterapia. Já na fase ainda mais avançada, quando se tem metástase, é possível que o tratamento seja feito apenas com quimioterapia.

Sobre o câncer de colo de útero, Renata Cangussu complementa que 75% das mulheres serão expostas ao HPV ao longo da vida, mas apenas 5% delas, em geral, apresentam alguma doença invasiva. “A grande maioria das infecções pelo HPV vai regredir, muitas vezes até de maneira espontânea, e não necessariamente evoluir para uma doença pré-maligna ou maligna. Apenas a minoria vai ter o câncer”, conclui.

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